Nos dias 24 e 25 de abril aconteceu o Fórum Folha de São Paulo: A Jornada do Paciente com Câncer, no Teatro Unibes, em São Paulo.
No primeiro dia a Dra. Silvia Brandalise, presidente do Centro Infantil Boldrini de Campinas, abriu o evento falando sobre Câncer Infantil: dos primeiros sintomas até o centro de referência. Explicou como funciona cada departamento do Centro Infantil Boldrini e quais são os fatores de risco e patologias mais comuns em crianças e adolescentes. A Dra. Silvia também lembrou que embora a taxa de cura das crianças e adolescentes com câncer tenha aumentado, em pelo menos 30% nos últimos 40 anos, o Brasil ainda precisa avançar em pesquisas clínicas. De acordo com a Dra., atualmente, menos de 1% dos casos da doença em crianças são registrados em pesquisas clínicas. Ela finalizou a palestra com um poema do jornalista, escritor e desenhista, Henfil:
“Se não houver frutos
Valeu a beleza das flores
Se não houver flores
Valeu a sombra das folhas
Se não houver folhas
Valeu a intenção da semente”
Na primeira mesa, com o tema Prevenção do Câncer, a palestra ficou por conta do Dr. Bernardo Garricochea, coordenador de Ensino e Pesquisa do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês; da Dra. Dirce Carraro, coordenadora do Laboratório de Genômica e Biologia Molecular e do Laboratório de Diagnóstico Genético do A.C. Camargo e do Dr. Oswaldo Keith Okamoto, pesquisador do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-tronco da USP.
A prevenção é a grande chave para um tratamento de sucesso. Quanto antes a pessoa for diagnosticada, melhores são as chances de cura. Um ponto positivo é que nos últimos anos, aumentou o índice de pessoas diagnosticadas precocemente.
O Dr. Oswaldo pontuou que o câncer se dá por meio do balanço de fatores modificáveis e não modificáveis. A pessoa precisa repensar em como está o seu estilo de vida, se tem uma boa alimentação, se pratica esportes e se consegue manter um equilíbrio no dia a dia entre o estresse e felicidade. Os problemas, receios, estresses, pensamentos negativos e feridas do passado podem, sim, ajudar no aparecimento do câncer. E esses são fatores que conseguimos modificar, não é mesmo?
Foi observado também durante a palestra que depois do caso da Angelina Jolie, surgiu o efeito “cancerofobia”. Muitas pessoas acabam fazendo exames desnecessários, como o exame de teste hereditário e isso pode acabar atrapalhando quem realmente precisa. É necessário saber primeiro quem são as pessoas que devem se prevenir e quais são os tipos de prevenção.
De acordo com Dra. Dirce, somente 10% dos pacientes diagnosticados com câncer são considerados câncer hereditário. Por isso, não há necessidade de todos fazerem o exame de teste hereditário, ele só irá causar angústia e preocupação para a família.
A segunda mesa ficou por conta da Dra. Andreia Melo, do Grupo Oncológico D`Or, Dr. Artur Katz, coordenador de oncologia do Hospital Sírio-Libanês e do Dr. Mariano Zalis, que trabalha na Progenética Hermes Pardini. O assunto abordado foi Detecção e Diagnóstico.
O Dr. Mariano explicou o que é e para que serve a biópsia líquida. Ela serve para o médico saber exatamente como está o tumor do paciente, ou seja, ter uma visão geral e detalhada durante o tratamento. “Não é a solução para o diagnóstico do câncer. É um exame complementar que alguns pacientes necessitam”, conclui.
Já o Dr. Artur deixou claro que é importante o diagnóstico precoce, porém existem alguns tumores que não conseguem detectar precocemente, como por exemplo a tireóide. Por isso, a necessidade de ficarmos sempre atentos aos sinais do nosso corpo.
A Dra. Andrea pontuou que quanto antes a pessoa for diagnosticada, o tratamento será mais simples, e, consequentemente, menos agressivo. Ela ressaltou a importância do paciente ser ativo nas escolhas do tratamento. Todos precisam entender o que está acontecendo com o seu próprio corpo, e pesquisar sobre a doença diagnosticada. Porém, deve-se ter muita cautela com o que lê ou ouve – procure sempre um veículo de comunicação confiável.
A última mesa da segunda-feira foi composta pelo Dr. Helano Freitas, oncologista clínico e coordenador de pesquisa clínica do Hospital A.C. Camargo, Dr. Riad Younes, diretor do centro de oncologia do Hospital Oswaldo Cruz e o Dr. Roger Miyake, diretor médico da Bristol. A temática abordada foi sobre Tratamentos. A quimioterapia ainda é utilizada como principal tratamento, porém a imunoterapia está ganhando muito espaço, pois é um tratamento que visa a qualidade de vida do paciente, “atancando” somente as células cancerígenas e com isso acaba sendo bem menos agressivo.
Segundo o Dr. Helano a quimioterapia age bem no paciente durante 5 ou 6 meses, depois o tumor vai pegando resistência e é necessário trocar de tratamento. O Dr. Riad deixa claro que não é normal o paciente ficar mal o tempo inteiro. “É necessário olhar o paciente como um todo, focar na qualidade de vida, e nas suas reais necessidades”. O diretor médico da Bristol, Dr. Roger, falou também sobre a imunoterapia: “O futuro da oncologia já chegou: completamos 1 ano de imunoterápico aprovado pela ANVISA. A incorporação desta nova tecnologia deve ser discutida por todos, profissionais da saúde, órgãos públicos e associações de pacientes,”.
No segundo dia do Fórum, a abertura foi realizada pelo Dr. Paulo Holf, oncologista do Sírio-Libanês que falou um pouco sobre o tratamento de ponta e a dificuldade de acesso ao diagnóstico do paciente. Para ele, o cenário do Brasil atualmente é “discutir tudo para todos”, porém, o correto deveria ser “discutir o que para quem”. O médico finalizou com a frase: “o médico deve fazer com o que a esperança prevaleça sempre nos pacientes”.
Na primeira mesa o assunto foi Aprovação de Novas Drogas, com a presidente do Instituto Lado a Lado, Marlene Oliveira, a Dra. Karla Coelho, da Agência Nacional da Saúde (ANS) e com o Dr. Fábio Franke, oncologista do Hospital de Caridade de Ijuí. Eles abordaram muito a dificuldade de acesso do paciente as novas drogas, tratamentos e questões financeiras.
A Dra. Carla relatou, que atualmente, cerca de 47 milhões de pessoas possuem planos de saúde, porém 80% da população dependem do SUS. Dr. Fábio afirma que as pesquisas clínicas são uma forma de acesso aos tratamento de ponta. Os pacientes demoram muito para receber um resposta sobre exames, tratamentos e medicamentos aprovados. Isso dificulta e muito o diagnóstico precoce e consequentemente a boa qualidade de vida.
A presidente do Instituto Lado a Lado, Marlene, ressaltou a necessidade de trabalhar em conjunto, repensando na saúde do Brasil. “Precisamos colocar o paciente no centro. Pensar exclusivamente nele e nas suas necessidades. Se não tivermos um diálogo efetivo, não vamos mudar o panorama do Brasil”.
O segundo assunto abordado foi Tocando a Vida Durante o Tratamento e os palestrantes foram o Dr. Carlos Alberto Ricetto Sacomani, urologista do A.C. Camargo, Dr. Jou EEL Jia, acupunturista que atende muitos pacientes com câncer e a apresentadora Sabrina Parlatore.
Já ouvimos falar muito que o emocional e o nosso estilo de vida influenciam no diagnóstico do câncer, porém, quando um paciente abre sua história, contando os detalhes, a informação é digerida com mais facilidade, não é mesmo? A apresentadora Sabrina Parlatore abriu seu coração e falou sobre sua luta contra o câncer de mama, do tipo triplo negativo, diagnosticado em maio de 2015. “Desde os meus 18 anos, minha vida foi agitada, com muitos compromissos e estresse do dia a dia. Minha alimentação era boa, porém me irritava muito, só trabalhava e não tinha tempo para mim. Eu sabia que um dia o meu corpo pagaria por tudo isso. E foi o que aconteceu, aos 26 anos, tive herpes zoster. Também tive síndrome de pânico e para completar fui diagnosticada com câncer de mama, aos 40 anos. Foi o meu corpo avisando que eu precisava rever minha vida e como eu estava vivendo. Hoje, sei que não quero viver mais ou menos. Preciso de qualidade de vida e tempo para mim. E é assim que vivo hoje”.
Completando o depoimento da Sabrina, o Dr. Jou explicou que a acupuntura ajuda a melhorar a qualidade de vida dos pacientes, minimizando os efeitos colaterais, como náuseas e vômitos. Com seus 38 anos de experiência em medicina oriental, ele diz que 90% das pessoas diagnosticadas com câncer tem um pedaço de mágoa do passado. “Para a pessoa ser feliz é necessário 3 elementos: prazer, ter um sentido na vida e precisa estar engajado com alguma causa. Está comprovado, pessoa feliz não fica doente”.
Para finalizar a mesa, o Dr. Carlos afirmou que atualmente no Brasil, a maioria dos casos de câncer é curável, e uma outra boa parte há prolongado a vida. “Na sobrevida: devolvemos a vida e esperança ao paciente. Mostramos que existe uma luz no final do túnel”.
Encerrando o Fórum da Folha de São Paulo – A Jornada do Paciente, tivemos a presença do paciente Paulo Henrique Velloso, da Dr. Paula Kioroglo, psico-oncologista do Sírio-Libanês e da Dr. Ludmila Kock, oncologista do Hospital Albert Einstein. O assunto discutido foi A Vida Após o Tratamento.
Aos 35 anos e triatleta, Paulo contou como foi enfrentar 3 tipos de câncer. “É muito raro ser diagnosticado com linfoma de hodgkin e linfoma não-hodgkin. Aprendi a realinhar valores na minha vida. Continuei praticando esportes, dentro das minhas limitações e hoje sou triatleta. Casei e mesmo com a probabilidade mínima de ter filhos, conseguimos ter duas crianças lindas e saudáveis. Meu recado é: faça uma reflexão do que realmente é problema de verdade, e o que é imprevisto. Não sofra por pequenas coisas! Foque no que realmente é problema. Você, paciente, tem um papel fundamental na cura. Busque qualidade de vida, não deixe o câncer vencer”.
Em 2022 teremos cerca de 18 milhões de sobreviventes do câncer, segundo a Dra. Ludmila. Porém, a Dra. deixa um alerta: “muitas vezes quando o paciente acaba o tratamento, ele se sente abandonado, esquecido. É preciso cuidado e atenção. A vigilância deve continuar, junto com uma equipe multidisciplinar”.
Complementando a Dra. Ludmila, a Dra. Paula conclui que é essencial um apoio psicológico depois do tratamento. O paciente está voltando a sua rotina profissional e muitas vezes pensa que vai voltar a ser como era antes. Entretanto, muitos não percebem, mas saem do tratamento outra pessoa e precisam de um apoio para lidarem com isso. “Irá existir limitações, e é necessário aprender a lidar com isso. As mulheres, por exemplo, trazem muita angústia, tristeza e rejeição do marido, e isso precisa ser trabalhado”. Além de colocar que estudos comprovam que muitos pacientes apresentam crescimento pós-traumático e aumento da resiliência.
O que pudemos observar é que em todas as mesas, foi falado da importância da qualidade de vida do paciente para que o tratamento tenha um melhor resultado. E para isso, é preciso que durante e após o tratamento, a pessoa tenha um acompanhamento por vários especialistas, como nutricionista e psicólogo. Hoje, grande parte da população não vê mais o câncer como uma sentença de morte, e cada vez mais pessoas são curadas e têm um bom estilo de vida.