Diagnosticado com câncer de próstata em novembro do ano passado, Paulo Cesar venceu a timidez e abriu o seu coração em nosso bate-bola Páginas da Vida. Faça igual o Paulo: abra o seu coração e espalhe esperança nesse Novembro Azul:

* Como e quando você descobriu o diagnóstico?
Foi num exame de rotina que fazia anualmente com o urologista. O resultado do PSA foi 2,65 ng/ml , o urologista falou pra não me preocupar que provavelmente era um erro do laboratório, já que eu tinha feito o preparo para o exame, e que no próximo ano ele repetiria o PSA. Eu não fiquei satisfeito com a conduta do médico, pois acho que se fosse um erro do laboratório ele, como profissional da saúde deveria ser o primeiro a  atribuir responsabilidade ao laboratório, mas fui embora pra casa e alguns meses depois, numa consulta com o clínico geral mencionei o ocorrido e ele prontamente solicitou novo exame. Quando  ficou pronto o PSA era de 4,85 ng/ml, isso em novembro de 2015, marquei com outro urologista, pois não confiava mais no anterior, e o mesmo me encaminhou para biópsia de próstata que ocorreu em  maio/2016 depois de uma pressão junto a Secretaria de Saúde de minha cidade, pois faço o tratamento através do SUS. Um mês depois e o resultado de adenocarcinoma prostático grau de Gleason 8 (4+4), esses números são uma forma de medirem o grau de agressividade do tumor e o meu era de alto risco.

* Como foi receber o diagnóstico? Quais foram os primeiros pensamentos, sentimentos e sensações a respeito?
Eu venho de uma família onde o câncer é uma doença dominante, já perdi alguns irmãos por conta dessa doença, portanto quando peguei o exame e li, não me assustei, parecia que eu já estava esperando esse resultado, mas sem dúvida, fiquei em choque e todo aquele sofrimento pelo que passaram meus irmãos vieram em minha mente. Mas isso durou o tempo do trajeto até minha casa. Chegando em casa meu pensamento era de voltar logo com um urologista pra saber qual seria o próximo passo do tratamento.

* Na época do diagnóstico, você sentiu falta de alguma informação ou suporte? Qual? De quem?
Senti falta de informação do médico urologista que simplesmente não me explicou nada, somente disse que estaria me encaminhando para o oncologista e lá ele optaria pelo tratamento mais adequado. Parecia que esse médico não estava preparado para conversar com seu paciente, senti que ele queria passar a bola para outro. Com o oncologista não foi diferente ele disse que a cirurgia radical chamada de prostatéctomia era arriscada pra mim em virtude de outras patologias que tenho, ele iria me encaminhar para  o oncologista clínico para que eu ouvisse um outra opinião, e assim foi feito, fui encaminhado para uma médica que me explicou claramente que o tipo de tumor que eu tinha ( Gleason 8 (4+4) ) era muito agressivo e na cirurgia o cirurgião retiraria a próstata, porém ele não tinha como saber se todo o tecido em volta da próstata estaria sem células cancerosas, o que poderia ocorrer uma  recaída pós cirurgia, então ela sugeria que ,eu tratamento fosse através da radioterapia, pois  nesse procedimento além da próstata e o tumor, os tecidos em volta também seriam queimados com os raios, ela me falou rapidamente sobre os efeitos colaterais que a radioterapia iria deixar e que eram menos do que a cirurgia e também eu não teria o pós operatório que era bem chato, portanto ela não me deu opção de escolha, apenas me comunicou que o tratamento seria o radioterápico associado a hormonioterapia, onde eu tomaria uma injeção mensalmente para inibir a produção do hormônio testosterona, pois esse hormônio alimenta o tumor.

*Em algum momento você pensou em jogar tudo para o alto e desistir?
Nunca senti vontade de desistir.

* Em relação ao tratamento. Por favor, me conte tudo que aconteceu, desde o momento que recebeu o diagnóstico até hoje.
As aplicações de radioterapia são tranquilas o aparelho parece um aparelho de RX e você fica embaixo dele, totalmente imóvel por alguns minutos, porém as aplicações são diárias, folgando apenas no sábado e domingo que é o período que as células sadias atingidas pela radiação têm para se regenerar. Após a 15 aplicação, você começa a sentir um desconforto ao urinar, que vai aumentando com o passar dos dias, mas a médica que acompanha o tratamento prontamente receita um medicamento para aliviar as dores. No meu caso, foi tudo tranquilo, apenas a gente fica ansioso para terminar logo as 36 sessões de radioterapia, que parece que não vai acabar nunca.

*De todo o tratamento: qual foi a fase mais difícil para você e sua família?
A fase mais difícil foi antes de iniciar o tratamento, pois a gente nunca sabe se vai conseguir, nesse país onde falta tudo.

* Houve algo que fazia parte da sua rotina e que atualmente não faz mais? Por quais razões?
Sim, sexo, lembra que eu falei que tomo uma injeção para inibir a produção de testosterona? Pois é, esse medicamento também inibe a vontade de sexo.

* Como era o Paulo antes do diagnóstico e como é o Paulo agora? O que mudou?
Eu acho que ainda estou mudando, pois, meu tratamento ainda não terminou, mas posso adiantar que já tenho uma grande parte da força que preciso para superar tudo isso.

* Como você imagina a sua vida daqui para frente?
Imagino uma vida normal, procuro viver assim, mas sem dúvida tudo pode se alterar de acordo com a proposta de tratamento que o oncologista possa me oferecer.

* Você acha que a campanha Novembro Azul ajuda a minimizar o preconceitos dos homens sobre o câncer de próstata?
Acho que essa campanha ajuda muito, mas o que realmente faz a diferença é esse homem resistente ao tratamento inicial, que é o toque retal, é a conversa com outro homem que já passou ou está passando pelo problema.

* Deixe uma mensagem para todas os homens que enfrentam ou já enfrentaram o câncer de próstata.
A mensagem é otimismo sempre, ter fé naquilo que fazemos e saber que tem sempre algo reservado pra todos nós, basta acreditarmos.

Veja também: