Diagnosticado com câncer de estômago há seis anos, Abraham conta como sua esperança e positividade foram seus grandes aliados nessa luta contra o câncer

Formado em Medicina Veterinária pela USP, pai de uma menina linda e microempresário na área de turismo, Abraham foi diagnosticado com câncer de estômago há seis anos quando procurou um médico por conta de uma hérnia inguinal.

“No verão de 2009, estava na praia com minha filha, conforme fazíamos todos os anos e percebi uma recidiva de uma hérnia inguinal. Em janeiro de 2010 procurei meu médico, que confirmou a hérnia e marcamos a cirurgia. Como fazia tempo que não fazíamos exames preventivos, ele resolveu pedir endoscopia e colonoscopia. Na endoscopia acharam uma pequena úlcera próxima ao cárdia (parte superior do estômago). Foi colhido material para biópsia, que deu positivo para carcinoma gástrico. Então veio a notícia de que eu estava com o problema, o câncer”.

Descobrir um diagnóstico de câncer não é fácil para ninguém, imagine para uma pessoa que não tinha nenhum sintoma e sempre levou uma vida saudável, com alimentação adequada e exercício físico?

“Lógico que ninguém quer receber uma notícia desta, fiquei assustado, porém tranquilo e conversamos sobre as condutas a serem tomadas dali para frente. Uma de minhas características é manter a calma em situações de estresse”.

O ideal nessa hora da descoberta é procurar apoio nos familiares e amigos. Querer carregar o fardo sozinho não é uma opção favorável para o seu tratamento. O amor, carinho, colo e amizade das pessoas que te amam com certeza vai te ajudar a ter forças para encarar o câncer com muitas energias positivas e esperança. E foi isso que o nosso personagem de hoje fez, ele renovou suas energias com sua família e principalmente com a sua filha, que na época era adolescente e precisava muito da presença de um pai.

Foi no meio de tanto amor que o Abraham imediatamente começou a pensar no seu tratamento e junto ao seu médico decidiram optar em fazer primeiro a herniorrafia por laparoscopia.

“Eu e meu médico decidimos fazer primeiro a herniorrafia por laparoscopia. Assim ele poderia explorar a cavidade abdominal para ter uma melhor informação sobre a situação. O estômago estava preservado do lado externo e não havia sinais de metástases ou gânglios aumentados. Um bom sinal. Três dias depois, fomos para a cirurgia de gastrectomia total. Uma cirurgia grande e de recuperação lenta. Foi retirada também a parte distal do esôfago”.

O resultado não foi o que o médico e o nosso guerreiro esperava.

“Fomos surpreendidos por um tumor extremamente agressivo, com prognóstico mais reservado. Isso nos levou para o tratamento clínico oncológico com quimioterapia e radioterapia”.

Ninguém disse que seria fácil, não é mesmo? Ele estava somente no começo de uma batalha, e nenhuma pedra no caminho iria tirar sua esperança e fé.

“Eu me concentrei bastante em Deus e disse para ele que, se ele quisesse me levar, certamente o faria, mas que decidi dar trabalho. Iria resistir bravamente. Me conscientizei que a decisão de viver ou morrer, em grande parte estava nas minhas mãos. Se me entregasse à doença e entrasse em depressão, estaria morto mesmo antes de meu coração parar. Passei a observar melhor o mundo e percebi que mesmo estando doente, muitas pessoas saudáveis e mais jovens que eu estavam morrendo. Que podemos morrer por acidentes, violência, doenças ou causas naturais. Sendo assim, resolvi não morrer por esta doença. Que o fato de estar doente não significava que morreria disto”.

O tratamento que o Abraham fez, de acordo com um de seus médicos, é o segundo mais forte, só perde para o tratamento da Leucemia. Essa informação foi uma surpresa para ele, já que estava sempre forte e bem-humorado:

“Na consulta, estava com uma bombinha injetando quimioterápico. O médico então comentou comigo que eu era muito forte. Perguntei por quê. E ele respondeu que meu tratamento era o segundo mais forte. Só perdia para o de leucemia. Fiquei surpreso. Era sim um tratamento pesado, mas não me parecia tão forte. Conseguia aguentar. Não deixei me abalar. Na cirurgia, pesava 79 quilos. Ao terminar o tratamento, estava com 56 quilos. Ao me olhar no espelho, me enxergava como um sobrevivente do holocausto. Caquético, envelhecido, com a pele ressecada, porém nada disso me tirava a vontade de viver”.

Nesse momento, quando percebeu que seu físico estava visivelmente abalado por conta da quimioterapia e radioterapia, ele decidiu mudar essa aparência e seu foco começou a ser reconstruir sua constituição física.

“Naquele tempo, pensava que minha vida sentimental estava acabada. Meu foco era reconstruir minha constituição física. Liguei para um primo meu, médico, para me indicar um personal trainner para reconstruir a minha massa muscular. Comecei a me alimentar bem e a usar produtos dermo cosméticos. Resumindo, hoje estou com 62 quilos, com a musculatura bem definida e com aparência 10 anos mais nova que a minha idade real. Não tomo nenhum remédio”.

Atualmente, depois de seis anos de muita luta e persistência, o Abraham faz exames de controle somente uma vez por ano, e relata que mesmo sabendo que está curado, fica tenso toda vez que vai fazer algum exame:

“Após o meu tratamento, comecei a fazer os exames de controle a cada 3 meses que depois passaram para cada 6 meses e hoje, 6 anos depois, uma vez por ano. Claro que cada vez que vou fazer os exames fico um pouco tenso, já que o diagnóstico inicial se deu por achado de exame”.

“Minha vida hoje está ótima sob todos os pontos de vista e esta experiência me tornou uma pessoa mais completa”.

*De todo o tratamento: qual foi a fase mais difícil para você e sua família?
Existem várias fases difíceis pois tem estigmas e tabus sobre o tratamento desta doença, mas acho que a primeira sessão de quimioterapia foi a mais difícil. Depois percebi que não era nenhum bicho de sete cabeças. Tive apoio de minha família, mas como era separado e minha filha era menor, encarei a maior parte do que passei sozinho mesmo. Em alguns momentos específicos tive a companhia de familiares e de amigos. A primeira quimio foi acompanhada por dois amigões que largaram tudo para me apoiar.

*Como era o Sr. Abraham antes do diagnóstico, e como é o Sr. Abraham agora?
Bem, nunca fui muito materialista e pelo histórico familiar, achava que eu estar no olho do furacão era uma questão de tempo. Hoje não perco meu tempo me aborrecendo com pequenas coisas. Continuo não me afetando com elas. Quando vejo casais brigando, por exemplo, por causa da tampa da privada levantada ou da toalha molhada na cama, acho uma grande bobagem. Falta de vontade de ser feliz. Valorizo mais o “ser” do que o “ter”. Curto cada momento e coisas da vida. As relações humanas e com o meio ambiente.

*Você precisou ser forte desde o começo. De onde você tirou e ainda tira tanta força e esperança?
Cada um é cada um. Mas eu procurei encarar tudo como uma intercorrência da vida. Me mantive focado na cura, em manter meu bom humor, minha espiritualidade e meu otimismo. Cada vez que ia para uma sessão de radioterapia ou quimioterapia, procurava elevar meus pensamentos e imaginar a eficiência do tratamento. Cada raio de radiação atingindo em cheio qualquer célula tumoral que eventualmente permanecesse lá e cada molécula de quimioterápico atingindo qualquer eventual célula tumoral circulante ou metastática, matando-as. Como disse no relato inicial, foi uma decisão minha ter força e esperança para combater e vencer o problema.

*Para finalizar, manda uma mensagem para todas as pessoas que passam pela mesma situação que você, mas precisa de um norte para continuar firme nessa luta.

Primeiro para os profissionais da área:
Não desejem sorte aos pacientes. O que precisamos é de SUCESSO! Esta é a palavra que ajudará a levantar o moral dos pacientes. Não queremos pensar que precisaremos de sorte. Queremos ter a certeza de que estamos cercados de profissionais gabaritados e comprometidos com os melhores resultados para os pacientes e que estão aplicando as melhores técnicas e tratamentos.

Para os pacientes:
1º  Sejam pacientes. Eu descobri por quê nos chamam de pacientes. Porque realmente precisamos exercer a paciência;

2º Não se matem em vida. Estarão passando por momentos difíceis, mas não é uma condenação à pena capital. Não somos nem nunca seremos imortais. Não sabemos como nem quando partiremos desta vida, e esta é a sua graça. Vivam intensamente. Descubram aptidões que não sabiam ter. Valorizem cada momento sejam felizes;

3º Não percam tempo achando que a vida acabou. Quando você menos espera, ela se reconstrói das cinzas. Hoje estou numa das melhores fazes da minha vida;

4º No Brasil, mais de 60% dos casos de câncer são tratados com sucesso. Isto inclui-se os casos que infelizmente ainda não tem cura e os que o diagnóstico foi tardio ou que o paciente se recusou a tratar-se. Então, você tem mais chances de sucesso do que fracasso;

5º. Faça exames preventivos. Esta doença é silenciosa. Quando você sente sintomas, ela já está avançada e as chances de sucesso diminuem. Olhem o meu caso. Não sentia nada nem tinha sintomas. Mas se demorasse mais uns 3 meses para diagnosticar, provavelmente não estaria aqui para contar a minha história.

Termino meu breve relato desejando SUCESSO a todos! Cuidem-se. Preservem sua autoestima!

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Autor

  • Juliana Artigas

    Pode me chamar de Ju. Jornalista, paulistana nata e balzaquiana. Apaixonada pelo comportamento humano e não dispenso um abraço demorado. Acho que toda história (boa ou não) merece ser contada. Amorosa, sonhadora e chorona. Quer me ganhar? Basta falar sobre o amor.

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