“Hoje me olho no espelho e realmente me vejo, olho a Fátima de antes. Aprendi a me valorizar, e o principal, aprendi a me amar”.
Aos 45 anos, separada e com dois filhos adolescentes, Fátima abriu o seu coração e contou como foi receber o diagnóstico de ACROMEGALIA e onde ela buscou forças para vencer essa batalha.
Fátima um dia olhou para o espelho e não se reconheceu, se sentia muito feia, com a pele grossa e as mãos maiores, quase não usava mais anéis. Ela levou anos para entender o que estava acontecendo e nem imaginava que a causa dessa mudança física era a acromegalia.
“Antes do diagnóstico, eu notei que minha mão era maior, eu sentia muito formigamento. Quando ia comprar sapato, o sapato não entrava”.
Foi em maio de 2011 que a vida desta mulher mudou da noite para o dia. Fátima foi acompanhar o seu namorado no hospital e acabou conhecendo a Dra. Milena.
“Meu namorado precisou ficar em observação no hospital e durante uma visita conheci a médica que o atendia, a Dra. Milena. Ao observar as minhas mãos, a experiente médica iniciou um verdadeiro questionário, as perguntas se relacionavam principalmente as mudanças que ocorreram em meu corpo, como anéis que não cabiam mais nos dedos, sapatos que não calçavam mais e para minha surpresa ela logo me disse que eu poderia ter um tumor benigno”.
Quando a Dra. Milena falou isso para Fátima, o seu mundo parou:
“Fiquei simplesmente apavorada. Naquele momento fiquei sem chão e a primeira pergunta que fiz para ela foi quanto tempo de vida eu teria, pois tinha dois filhos não podia deixá-los desamparados. Tive muito medo, para mim tudo foi muito difícil, foi terrível saber que tinha um tumor, mesmo sendo benigno, chorei muito e não contei nada para ninguém naquele dia”.
A gerente de lojas sofreu sozinha durante um tempo, com medo de preocupar os filhos, amigos e família. E foi sozinha, depois de alguns exames, que foi diagnosticada a acromegalia.
“Assim que peguei o resultado logo abri e vi que meus hormônios estavam alterados. Meu IGF-1 era 1107,0 ng/ml com HGH basal de 93,00 ng/ml, minha glicose 117 MG/DL. E foi com todos esses exames que a Dra. Milena me diagnosticou com acromegalia. Ela me acalmou e disse que a maioria dos casos não tem cura, mas com tratamento adequado poderia ter uma vida normal. Fiquei com muito medo de ficar deformada, de crescer muito, tinha medo até de morrer. Porém para minha família sempre passei que estava tudo bem e logo estaria curada”.
Mais confiante e com esperança que tudo iria terminar bem, Fátima começou o tratamento em junho de 2011, no Hospital São Paulo.
“Comecei o tratamento tomando uma injeção de sandostatin 20 mg uma por mês durante 6 mês e tive ótimos resultados. Minhas mãos já fechavam, não tinha tantas dores e formigamento, mas meus hormônios ainda estavam elevados. A dose foi aumentada para 40 mg de sandostatin. E em janeiro de 2012 meu IGH-1 492 ng/ml estabilizou. Foi quando os médicos entraram com um complemento de 2 comprimidos de cabergolina”.
Nossa entrevistada conta que nunca sofreu com efeitos colaterais da medicação, porém mesmo com todos os remédios os hormônios não diminuíram, e ela acabou fazendo a cirurgia em fevereiro de 2013.
“Meu tumor era um macroadenoma apofisado 3,7 x 1,8 cm, o mesmo não foi todo retirado, pois a sua total remoção colocaria minha vida em risco. Meus hormônios agora estão normais, não tomo mais as injeções, porém continuo com a cabergolina: são 3 comprimidos por semana e felizmente me sinto ótima. Hoje me sinto muito bem: tenho uma vida normal, uma família normal, tudo normal.”
A acromegalia fez a Fátima enxergar o que realmente era importante na sua vida: “a Fátima antes do diagnóstico era muito ocupada com o trabalho e com as pessoas, nunca tinha tempo para ir ao médico. A vezes eu sabia que estava doente, mas não queria enxergar. Hoje me cuido bem mais, penso em mim com mais carinho e atenção”.
“Eu tive sorte, porque se não fosse o meu namorado passar mal, e a Dra. Milena não estivesse de plantão naquele dia no hospital, talvez eu não estivesse mais aqui para contar a minha história, pois eu não iria procurar um médico”.
Finalizando a entrevista, Fátima deixa um recado não só para os pacientes com acromegalia, mas para todos:
“Não é fácil ter acromegalia ou qualquer outra doença que muda a nossa fisionomia, que é difícil vencer o preconceito é difícil, ver nosso corpo mudar, mas acredito que as mudanças são necessárias para nosso melhor. A beleza não está no seu corpo físico e sim na sua alma, quando compreendemos que temos uma doença seja qual for, temos que lutar, sermos perseverantes, termos fé e acreditar que tudo vai dar certo. É muito importante falar sobre a doença, pois assim poderá ajudar outras pessoas que ainda não tiveram a graça de saber assim como eu. NÃO TENHA VERGONHA DE FALAR, VOCÊS PODEM SALVAR UMA VIDA! ”.
ACROMEGALIA: CONHEÇA MAIS SOBRE ESSA DOENÇA RARA
Muitas pessoas nunca ouviram falar em acromegalia, tampouco sabem o que é, quais são os sintomas e a sua causa. Isso acontece por dois motivos: ela é uma doença crônica e rara, e atualmente no Brasil não temos muita informação acessível sobre essa doença.
A acromegalia é causada pelo excesso de produção do hormônio de crescimento (GH) pela hipófise – uma glândula pequena, do tamanho de uma ervilha, que está localizada logo abaixo do seu cérebro, atrás dos olhos. Ela controla o crescimento, o metabolismo e a atividade reprodutiva normal. Na maioria dos casos, a causa desta produção excessiva de GH são tumores não-cancerosos na hipófise.
A consequência desse excesso de GH na vida adulta, já que as cartilagens de crescimento se encontram fechadas e inativas, são o aumento das mãos, pés, mandíbula, língua e ossos da face.
Segundo o Ministério da Saúde a incidência de acromegalia é de aproximadamente 3 casos por milhão de pessoas por ano em estudos conduzidos na Europa e nos Estados Unidos. Como não há estudos realizados na população brasileira, podemos estimar, baseando-se nos trabalhos europeus, que cerca de 650 novos casos de Acromegalia sejam diagnosticados anualmente no Brasil. Normalmente, descobre-se o diagnóstico na fase adulta, porém, já existem casos de adolescentes no Brasil, mas no caso de crianças e adolescentes essa doença é chamada de gigantismo.
Então, qual a diferença entre a acromegalia e o gigantismo?
A doença é a mesma. O que ocorre é que na infância ou puberdade – antes do fechamento das cartilagens de crescimento, a manifestação da doença é chamada de Gigantismo, pois a ação do hormônio nesta faixa etária vai levar ao crescimento excessivo do corpo. Já quando a doença se manifesta na fase adulta, é chamada de acromegalia, pois não existe mais a possibilidade de crescimento longitudinal dos ossos, e sim o aumento dos tecidos moles e cartilaginosos, causando aumento das mãos e dos pés.