O ASH 2017 reúne os maiores hematologistas do mundo e traz o que há de novo no tratamento de doenças ligadas ao sangue. Promovido pela American Society of Hematology, o congresso acontece na cidade de Atlanta, EUA, e abordou temas relacionados às novas terapias para doenças linfoproliferativas. Este ano o evento aconteceu em Atlanta e reuniu mais de 25 mil médicos e profissionais da área da saúde. Só do Brasil foram mais de 300 médicos.
Carlos Chiattone, professor da Santa Casa de São Paulo e diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), apontou que os principais avanços nesta área estão ligados aos tratamentos biológicos. “Estas terapias partem desde os anticorpos monoclonais até drogas que agem no metabolismo das células neoplásicas”, conta Chiattone.
O especialista explica que os tratamentos caminham para a redução do uso da quimioterapia para o combate das doenças. “Um passo decisivo que está sendo instaurado nos estudos clínicos é utilizar combinações dessas drogas biológicas”, explica. Chiattone acrescentou que o conhecimento biológico sobre as células vem crescendo a cada ano e que essa conquista representa um grande benefício para os pacientes.
Até amanhã, 12, a cidade de Atlanta-EUA, recebe a 59ª edição do ASH. Promovido pela American Society of Hematology, o congresso trouxe ao público novas abordagens clínicas e estudos para o tratamento de linfomas.
Para o Dr. Bernardo Garicochea, hematologista e oncologista, um dos assuntos interessantes do evento foi a discussão sobre linfomas difusos de grandes células B. Segundo o especialista, cerca de 3% desses linfomas se apresentam como uma amplificação do cromossomo 9 da região braço curto, região 24.
“Pode parecer um número pequeno de pacientes, mas quando você começa a ver esses casos mais próximos, é possível observar que o linfoma difuso de grandes células, na verdade, é uma composição de pequenos grupos de doenças“, explica Garicochea.
O hematologista defende ainda que o grupo específico que apresenta esta anormalidade pode ser considerado linfoma primário não mediastinal. “É um tipo difuso de grandes células, uma entidade nova, que responde a um tipo de tratamento único”, finaliza.
Os médicos que participaram do maior Congresso de Hematologia do mundo, em Atlanta, EUA afirmaram que a imuno-oncologia é uma nova especialidade que vem dominando as pesquisas e revolucionando os tratamentos.
O Dr. Daniel Tabak, hematologista e oncologista do Rio de Janeiro constatou que “estamos vendo grande aplicabilidade desses novos conhecimentos, inclusive no Brasil”. A possibilidade de modificação de um regime terapêutico que vem sendo utilizado há muitos anos para o tratamento de doença de Hodgkin foi um dos destaques da sessão plenária, principal evento do Congresso.
Um fato que chamou a atenção foi que, pela primeira vez, um estudo comparativo de longo prazo foi demonstrado e rapidamente publicado. A pesquisa mostrou que uma nova droga chamada de brentuximab pode, potencialmente, substituir uma droga associada com uma série de complicações no tratamento da doença de Hodgkin, que é a bleomicina, explicou Tabak.
O especialista também acrescentou que para o Brasil isso representa um desafio muito grande, considerando o risco. “Acho que nós precisamos ter alguns cuidados antes de rapidamente implementar esse novo conhecimento, até porque é bem possível que a droga bleomicina, possa ser suprimida quase que totalmente sem comprometer os resultados”.
O Dr. Bernardo Garicochea, oncologista e hematologista do Grupo Oncoclínicas, disse que um dos assuntos que mais chamaram a atenção no ASH foi a nova terapia conhecida como CAR T-cell.
“É muito mais que uma forma de tratamento, é um conceito novo de se tratar o câncer. Por acaso, neste momento, os cânceres iniciais que estão sendo tratados e documentados são as leucemias linfoides e mieloides agudas e os linfomas difusos. Mas este tipo de terapia, pela sua plasticidade e capacidade de gerar respostas muito profundas, será estendida para tumores sólidos também”, explicou.
O que se busca agora, segundo o Dr. Garicochea, é dimensionar a toxicidade. Apesar disso, “os resultados obtidos até agora são impressionantes na redução de morbidades e mortalidades pelo uso de CAR-T”. O maior problema é o custo do tratamento, acima de 400 mil dólares.
Em relação a Linfoma do Manto, dois estudos de longo follow up se destacaram no ASH, na avaliação do Dr. Bernardo Garicochea. Um estudo apresentado com o uso de lenalidomida com rituximab, chamado R-Square em linha inicial mostrou resultados que são impressionantes. “Em torno de 2/3 dos pacientes continuam com resposta clínica após cinco anos de tratamento, e esses são pacientes que não eram candidatos a transplante de medula: pacientes mais idosos, mais frágeis”, explicou Garicochea.
“E a gente fica se perguntando se essa forma de tratamento não tenderia a substituir o transplante de medula, também em uma fase inicial, já que essa comparação ainda não foi feita”, acrescentou o especialista.
O Dr. Garicochea informou também que outro estudo foi considerado fascinante em Linfoma do Manto, iniciado em 2004, acompanha pacientes que foram randomizados para receber R-CHOP e R-FC. “O resultado desse estudo, de uma forma bem simples, foi que os pacientes que recebiam R-CHOP, viveram mais do que aqueles que recebiam R-FC. Os pacientes que receberam R-CHOP com manutenção por rituximab viveram mais do que aqueles que receberam manutenção com Interferon”, frisou o médico.
A utilização de R-CHOP com manutenção com rituximab, em pacientes com Linfoma do Manto, ainda continua sendo uma das melhores estratégias para pacientes que não podem ser transplantados, concluiu.