Recostada no espaldar da cabeceira de minha cama, meus cabelos compridos escorriam sobre a toalha de banho. Respiração ofegante, parecia ter corrido uma maratona. Como de costume, fui sempre orientada pela minha mãe a apalpar as mamas, em razão de vovó ter falecido de câncer de mama. Naquele dia, me encontrava com as mãos sobre os peitos, dos quais me orgulhava tanto, por seu formato e tamanho. Meus dedos finos, porém, ágeis, percorriam em formato circular, primeiro, a mama direita, que desde os meus 35 anos, já apresentava um nódulo, diagnosticado como benigno por diversas mamografias, que usualmente realizava. Mas, foi somente ao apalpar a mama esquerda, que encontrei um nódulo diferente. Pensei, por um instante, que poderia ser maligno, pois, ao apalpá-lo, senti uma pequena dor. Mas logo fui tomada por pensamentos positivos e segui nas minhas atividades já programadas para aquele dia.

Era 29 de Agosto de 2015, e em menos de um ano, havia realizado um exame de mamografia, que não revelou nenhuma alteração, porém, aquele caroço na mama esquerda não me saía da cabeça, e resolvi procurar meu ginecologista para tirar essa dúvida. Ao telefonar, marquei o primeiro horário disponível, sem sequer consultar minha agenda, considerando que o melhor a fazer era ir o mais rápido que pudesse.

No consultório, o médico, examinando minhas mamas, tranquilizou-me, ao falar do formato arredondado do nódulo, uma possível indicação de benignidade. Mas, para mim, esse pré- diagnóstico não foi suficiente. Com isso, decidida a averiguar mais a fundo, reuni as guias dos receituários para que pudesse realizar os exames. Primeiramente, marquei a mamografia e depois um ultrassom. E foi durante esse último exame, que a médica com o aparelho nas mãos e os olhos fixos na tela do computador, falou-me de uma possível suspeita de malignidade, e que muito provavelmente, meu ginecologista pediria uma biópsia mais específica, uma mamotomia. Foi a primeira vez que ouvi essa palavra e confesso que ela me assustou. Mas, obstinada por uma resposta, marquei a biópsia no Sírio Libanês, de acordo com meu convênio médico e a reputação do hospital. Na sequência, fui informada da necessidade de levar uma acompanhante no dia do exame. Foi quando não hesitei em chamar minha irmã, Rita, e contei a ela, da possível desconfiança, pois necessitava de um apoio psicológico, e naquela altura, a palavra câncer já passava pela minha mente.

Foi durante o exame, que o médico retirou do nódulo algumas partes para que fosse realizada a biópsia e, ao mesmo tempo, me perguntou se eu já tinha um mastologista. Como era leiga no assunto, nunca tinha ouvido falar nessa especialidade médica. Ao seguir seu conselho, pedi algumas recomendações a uma amiga e liguei para marcar uma consulta. Apesar de confusa, ao mesmo tempo queria saber do que se tratava, mas senti medo de enfrentar o momento, caso o diagnóstico fosse positivo para a malignidade. Pressentindo uma má notícia, a palavra câncer aproximava-se cada vez mais de mim. E algo me tocava no íntimo.  Precisava agir rápido e assim o fiz. E é o que eu vou contar nas próximas páginas da vida.

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