“Sou Maria Ivone Dutra, tenho 62 anos e luto contra o câncer há 16 anos. Do fim de 2001 até agora já foram dois nódulos na mama direita, um na mama esquerda, e dois no pulmão, sendo que num destes perdi cerca de 30% do órgão. Eu tenho muita fé e vivo o hoje, pois ontem já passou e o amanhã a Deus pertence. A história é longa e começou quando eu tinha 48 anos e morava em Campo Grande (MS). Em 2000, por meio do autoexame, senti um caroço embaixo do braço direito e procurei uma ginecologista que disse que não era nada. Mesmo assim, fui a outro médico, que também atestou que o nódulo não me causaria problemas. Um tempo depois, no fim de 2001, com a permanência do caroço e a inquietação diante da situação, procurei o Hospital do Câncer de Campo Grande. E lá, após uma mamografia, o diagnóstico que se confirmou: estava com carcinoma ductal invasor (CDI), o câncer de mama. A cirurgia foi marcada imediatamente e a mama direita foi retirada. Neste período, foi intenso o tratamento: ao todo foram seis quimioterapias de 21 em 21 dias e 30 sessões diárias de radioterapia. O forte tratamento gerou impactos na minha vida e no meu corpo, mas não fez com que eu perdesse o cabelo. Eu tinha tanta certeza que tinha a doença, que não me abalei e logo decidi que encararia com força. Se Deus permitiu que isso acontecesse, me daria forças para enfrentar.

Porém, o começo, mesmo sem dor, foi difícil. Abandonei o trabalho de vendedora de automóveis e me separei. O câncer afetou bastante. Mas essas perdas, dolorosas, não me desanimaram. Fazia o tratamento e também ganhava na época um salário mínimo fazendo artesanatos e cuidando da casa e dos dois filhos. Eles eram adolescentes e me ajudavam muito. O meu filho, inclusive, que fazia a minha comida. De 2001 a 2009, continuei fazendo exames periodicamente e nenhum outro sinal negativo foi detectado. Considerava-me curada.

Em 2007, eu e os meus filhos nos mudamos do Mato Grosso do Sul para Brusque, Santa Catarina. No primeiro momento, trabalhei em uma confecção e depois, já com o sonho de abrir uma creche infantil, fui estudar Pedagogia na faculdade Uniasselvi. Minha filha é pós-graduada na área e resolvemos ter uma creche.

Foi então, no fim de 2009, novamente por meio de autoexame, descobri um caroço no lado direito da mama, em cima do ombro, um pouco abaixo de onde retirei o primeiro nódulo. Eu fui no posto de saúde, fiz uma ultrassonografia e identifiquei que estava com o câncer de novo. Um mês depois do diagnóstico, foi feita a cirurgia, onde foi raspado nesta região, que já não existia a mama, e retirado o nódulo. E mais uma vez passei pelo processo de quimioterapia. Ao todo foram seis. Porém, desta vez, perdi os cabelos. Mesmo sem uma mama e sem o cabelo, não fiquei afetada. Deus continuava me dando forças para eu seguir e não desistir. E foi o que aconteceu. Colocava lenços na cabeça e me sentia bem.

Depois do segundo câncer, tudo corria normalmente. Eu estava me recuperando, e de seis em seis meses fazia o preventivo. Até que em 2010 uma surpresa desagradável: um nódulo no pulmão. Foi necessário remover cerca de 30% do órgão. E depois, em meados de 2013, o diagnóstico que estava com outro câncer, mas desta vez na mama esquerda – embaixo do braço. Esse foi o momento mais triste. Eu fiquei abalada. Quando eu achava que tinha me curado, que estava bem, apareceu estes dois. De todo o período da doença, foi o mais difícil. Eu não sabia se eram os meus últimos dias, mas decidi novamente que viveria bem e alegre.

Por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), fiz a cirurgia e retirei a mama esquerda. E fiz novamente todo o processo de radioterapia – 30 sessões, uma por dia. Hoje em dia, uso sutiã de silicone, disponibilizado pela Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brusque.

Mas a minha luta ainda não tinha acabado. No fim de 2013, outro diagnóstico crucial – o câncer do pulmão havia voltado. Com quatro meses depois do primeiro câncer eu fiz a tomografia e tinha melhorado, mas com um ano ele voltou a crescer. No entanto, eu não podia fazer cirurgia, pois o câncer estava espalhado no órgão. Então, realizei três quimioterapias por mês.  Atualmente tomo dois remédios,  Aromasin e Afinitor, que ajudam a tratar a doença.”

Maria Ivone deixa um recado para todos que lutam contra o câncer:

“Eu acordo e agradeço a Deus pela vida. Aprendi a confiar nele e hoje vejo que alguns problemas não são nada. Eu tenho muitos sonhos ainda e acredito que terei muito tempo pra viver. Um dos meus sonhos é casar de novo, encontrar um homem que me ame. Ter dor é normal. Mas quem faz esse tratamento precisa aprender a conviver com isso e não se entregar. Nunca se desesperar e encarar com alegria. É assim que tenho vivido. O autoexame é fundamental. Qualquer coisa estranha no corpo a mulher precisa saber o que é, ir atrás, se preocupar. O doutor tem mil pacientes, mas a nossa vida é só uma”.

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