O que você quer ser quando crescer? Quem nunca ouviu essa pergunta quando pequeno. Eu deveria ter por volta de quatro anos, quando escutei pela primeira vez. Levei a sério e pensei sobre o assunto durante dias. Perguntei aos meus primos e amigos da escola o que eles haviam respondido e ouvi as mais variadas respostas, que foram de astronautas a bombeiros, médicos, dentistas, engenheiros até advogados. Mas nenhuma dessas profissões me tocava o coração.  Um dia, ao ver minha avó escrevendo uma carta a uma amiga distante, percebi que era nas palavras que eu queria depositar meu futuro. Mas eu não sabia como se chamava essa profissão. Resolvi então perguntar a uma colega de escola, que devia ter a mesma idade que eu, e ela respondeu: – Acho que é carteira essa tal profissão que escreve. E eu, desde esse dia, com orgulho passei a responder que queria ser uma carteira, e em troca de aplausos, escutava gargalhadas dos mais velhos.  Porque riam de uma profissão tão bonita, pensava eu, enquanto zombavam de mim.

Com o passar do tempo, descobri que queria ser escritora, mas a vida me empurrou para outras profissões, sem me ouvir. Assim, deixei meu sonho de lado.

Durante o tratamento, quando estava realizando as quimioterapias, já sem cabelos, sem mamas e quando ao me enxergar no espelho não me reconhecia mais, senti a necessidade de buscar algo mais profundo. Alguma coisa que fosse além da aparência. Foi então que comecei a pensar em minha essência, buscando dentro de mim o que fosse  verdadeiro e entendendo que só assim poderia me identificar por completo.

Foi nesse momento que peguei uma caneta e sobre o papel rascunhei pensamentos. Eu, que tive a coragem de enfrentar o câncer, agora me sentia forte para arriscar e me lançar ao mundo, através das palavras. Acreditando em meu potencial, fiz dele um projeto de vida . E em outubro de 2017 lancei meu primeiro livro infantil, direcionado a apoiar as famílias na abordagem sobre o câncer. “Cabelos vão Cabelos vêm o que é que a mamãe tem” tornou-se muito mais que um livro. Hoje faz parte de um projeto social, em que tenho amparado muitas famílias que passam por esse problema. Levando apoio a outras cidades, chegou ao Rio de Janeiro, Minas Gerais e interior de São Paulo.

Sempre acreditando que nada era impossível, o livro ultrapassou as fronteiras da América e foi lançado, este mês de junho, na feira do livro em Portugal. Uma experiência realmente maravilhosa que irei contar para vocês nas próximas páginas da vida.

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